terça-feira, 28 de julho de 2009

A auto-estima de nossos filhos


Uma semana depois de minha esposa e eu decidirmos
começar uma família, entramos numa livraria e
compramos dois livros sobre como educar filhos.
Por uma série de razões os dois filhos só nasceram
seis anos depois e acabamos lendo não dois, mas 36 livros.
Se dependesse de teoria, estávamos preparados.
Hoje eles estão crescidos e um amigo me perguntou que
livros nós havíamos utilizado mais. Foi uma boa
pergunta que demorei a responder. Usamos um livro só,
um que educava mais os pais do que os filhos. Intitula-se
'A Auto-estima do seu filho' de Dorothy Briggs, e o
título já diz tudo.
A tese do livro é como agir para nunca reduzir a auto-estima
do seu filho: elogiá-lo freqüentemente , ouvir sempre suas
pequenas conquistas, festejar as suas pequenas vitórias,
nunca mentir ou exagerar neste intento, em suma mostrar
a seus filhos seu verdadeiro valor. Ao contrário do que
defendem os demais livros, não é uma boa educação,
nem disciplina, nem muito amor e carinho, ou uma família
bem estruturada que determinam o sucesso de nossos
filhos, embora tudo isto ajude.
A sacada mais importante do livro, no nosso entender,
foi a constatação que filhos já nascem com uma elevada
auto-estima, e que são os pais que irão sistematicamente
arruiná-la com frases como: 'Seu imbecil!', 'Será que
você nunca aprende?', 'Você ficou surda?'.
Jean Jacques Rousseau errou quando disse que
"o homem nasce bom, mas é a sociedade que o corrompe".
São os próprios pais que se encarregam de fazer o estrago.
Por exemplo: você, pai ou mãe, chega do trabalho e
encontra seu filho pendurado na cadeira: 'Desça já seu idiota,
vai torcer o seu pescoço'. Para Dorothy, a resposta
politicamente correta seria 'Desça já, mamãe tem medo que
você possa se machucar'. Primeiro porque seu filho não é um
idiota, ele assume riscos calculados. Segundo são os pais,
com suas neuroses de segurança, que têm medo de cadeiras.
Quando nossos dois filhos começaram a aprender a pular,
entre três e quatro anos de idade, desafiava-os para um
campeonato de salto a distância. Depois de algumas
rodadas, seguindo a filosofia do livro, deixava-os ganhar.
Ficavam muito felizes, mas qual não foi a minha surpresa
quando na sétima ou oitava rodada, eles começavam a me
dar uma colher de chá, deixando que eu ganhasse.
Que lição de cidadania: criança com boa auto-estima não é
egoísta e se torna solidária.
Eu não tenho a menor dúvida de que os problemas que
temos no Brasil em termos de ganância empresarial, ânsia
em ficar rico a qualquer custo que leva à corrupção, advêm
de um pai ou uma mãe que nunca se preocuparam com a
auto-estima de seus filhos.
Eu acho que políticos, professores e intelectuais, na maioria
desesperados em se autopromover, jamais darão dar
oportunidades para outros vencerem, como até crianças
de três anos são capazes de fazer. A fogueira das vaidades
atinge os inseguros com baixa auto-estima.
Alguns pais fazem questão até de vencer seus filhos nos
esportes para acostumá-los às agruras da vida, como se
a vida já não destruísse a nossa auto-estima o suficiente.
A teoria é simples, mas a prática é complicada. Uma frase
desastrada pode arruinar o efeito de 50 elogios bem dados.
'Meu marido queria que o segundo fosse um menino, mas
veio uma menina'. Imaginem o efeito desta frase na
auto-estima da filha. Portanto, quanto mais cedo consolidar
a auto-estima melhor.
Esta tese, porém, tem seus inconvenientes. Agora que meus
filhos são muito mais espertos, inteligentes e observadores do
que eu, tenho que ouvir frases como: 'É isto aí Pai', 'Faremos
do seu jeito, pai', tentativas bem-intencionadas de restaurar
a minha abalada auto-estima.

Stephen Kanitz

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