domingo, 4 de março de 2012

Fitas brancas

O perdão incondicional no mundo atual é muito raro. 
Além de não perdoar com facilidade as ofensas de parentes 
e amigos, encontramos impedimentos enormes para a sua
prática no que se refere aos inimigos.
O orgulho é de tal ordem que basta um familiar cometer 

um deslize qualquer para ficarmos furiosos.
Em vez de desculpar a fragilidade moral do infeliz e 

procurar lhe dar apoio para suavizar as punhaladas do 
remorso, ficamos a atirar pedras. Pedras do desprezo, da 
indiferença, sem medir as consequências de tal atitude.
Conta o escritor John Lageman um fato contemporâneo. 

Ocorreu com um ex-presidiário, que sofreu na alma a 
incompreensão e o abandono dos seus familiares, durante 
todo o tempo em que esteve recluso numa penitenciária.
Os seus parentes o isolaram totalmente. Nenhum deles lhe 

escreveu sequer uma linha. 
Nunca foram visitá-lo na prisão durante a sua permanência lá.
Tudo aconteceu a partir do momento em que o ex-­presidiário,

depois de conseguir a liberdade condicional, por bom 
comportamento, tomou o trem de retorno ao lar.
Por uma coincidência que somente a Providência Divina 

explica, um amigo do diretor da penitenciária se sentou
 ao seu lado.
Por ser uma pessoa sensível, identificou a inquietação e a 

ansiedade na fisionomia sofrida do companheiro de viagem
e, com gentileza, lhe falou:
O amigo parece muito angustiado! Não gostaria de 

conversar um pouco? Talvez pudesse diminuir o desconforto.
O ex-detento deu um profundo suspiro e, constrangido, falou:

Realmente, estou muito tenso. Estou voltando ao lar.

Escrevi para minha família e pedi que colocasse uma fita 
branca na macieira existente nas imediações da estação, 
caso tivesse me perdoado o ato vergonhoso.
Se não me quisessem de volta, não deveriam fazer nada. 

Então eu permanecerei no trem e rumarei para lugar incerto.
O novo amigo verificou como sofria aquele homem. 

Ele sofreu uma dupla penalidade: a da sociedade que o 
segregou e a da família que o abandonou.
Condoeu-se e se ofereceu para vigiar pela janela o aparecimento 

da árvore. A macieira que selaria o destino daquele homem.
Dez minutos depois, colocou a mão no braço do ex­-condenado

e falou quase num sussurro: - Lá está ela!
E mais baixo ainda, disse:
- Não existe uma fita branca 
na macieira! Fez uma pausa, que parecia uma eternidade e 
falou novamente: - A macieira está toda coberta de fitas brancas!
A terapia do perdão dissipou, naquele exato momento, toda

a amargura que havia envenenado por tanto tempo uma
vida humana. O pobre homem reabilitado deixou que as 
lágrimas escorressem pelas faces, como a lavar todas as 
marcas da angústia que até então o atormentara.
 

A simbologia das fitas brancas do perdão incondicional 
deve ficar gravada em nossa mente. 
Deve nos lembrar sempre as palavras de Jesus: 
"Aquele dentre vós que estiver sem pecado, 
atire a primeira pedra. "

Conto publicado na revista Presença Espírita nº 155.

2 comentários:

Socorro Melo disse...

Oi, Sara!

O conto é belíssimo, e de uma profundidade singular. Confesso que refleti muito, e me emocionei com o desfecho da história.

Grande abraço
Socorro Melo

Maria Helena Mueller - Lelê disse...

Lindo, Sara!
Obrigada pela lembrança da GRANDE IMPORTÂNCIA do Perdão!
Nossa! Mtas vezes me pego no flagra da ignorância da ira, por besteiras...
Guardarei com carinho a lembrança das BANDEIRAS BRANCAS em meu coração!
Bjs.