segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O dinheiro que grita ...



Todo mundo quer ter dinheiro e não há nada de errado com isso, desde que seja conquistado por mérito próprio, sem roubar de ninguém tampouco do município, do Estado e da nação. 
Dinheiro limpo é bem-vindo: nos proporciona viagens, prazeres, conforto, cultura, saúde. (…) 
Além de limpo e honesto, dinheiro bom é dinheiro silencioso. (…) 
Conheço milionários que tem com o dinheiro uma relação discreta. 
Claro que moram bem, viajam, possuem um bom carro, mas não ostentam, não botam seu dinheiro no sol para brilhar e ofuscar os outros. 
O dinheiro tem que ser elegante como o seu dono. 
ninguém precisa lidar com o dinheiro como se fosse um bicheiro.
 Mas é como muitos lidam. 
Mesmo não abrindo a camisa para mostrar suas correntes douradas nem transitando em limusines, ainda assim há quem não se importe que seu dinheiro grite – aliás, até fazem questão de ter um dinheiro bem marqueteiro. 
São mulheres que colocam todas as joias que possuem para ir a uma festa, usam bolsas com monogramas gigantes, instalam chafarizes nas piscinas e compram os dias de folga dos empregados porque não toleram a ideia de irem até a cozinha buscar seu próprio copo d´água num domingo. Homens que andam em carros que valem uma cobertura, pets que vestem Prada, vinhos que são escolhidos pelo preço e namoradas idem, que amor verdadeiro é coisa de pobre. 
O rico que esnoba pessoas humildes tem um dinheiro que grita. 
O rico que trata a todos com respeito e gentileza, tem um dinheiro silencioso. (…) 
O rico que perdeu o prazer de apreciar as coisas gratuitas da vida, tem um dinheiro que grita. 
O rico que não perdeu a conexão com aquilo que lhe dava prazer quando não era tão rico, tem um dinheiro silencioso. 
Quem dificulta o acesso a si mesmo através de um sem número de assessores, guarda-costas, secretários, agentes e demais bloqueadores humanos, tem um dinheiro que grita. 
Quem segue disponível pro afeto, tem um dinheiro silencioso. (…) 
Reconheço que é muito bom viver bem e poder pagar as próprias contas, tenham elas quantos dígitos tiverem. 
Mas dinheiro deveria ser educado da mesma forma que um filho: nunca permita que ele seja insolente e ruidoso.

Martha Medeiros - Publicado na Revista o Globo em 04/11/2012

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