sábado, 17 de outubro de 2009

As Mãos


Minha avó tinha mais de 90 anos, estava sentada num banco na varanda, tinha um aspecto fraco, não se mexia, olhava fixamente as mãos...
Quando me sentei ao pé dela, nem sequer se mexeu, não teve nenhuma reação.
Eu não queria perturbá-la, mas ao fim de um certo tempo perguntei-lhe se estava bem.
Ela levantou a cabeça e sorriu para mim.
- Sim, eu estou bem, não te preocupes, respondeu ela com uma voz forte e clara.
- Eu não gostaria de incomodá-la, mas como estavas aí com o olhar fixado nas próprias mãos, eu queria saber se estava tudo bem com a senhora.
- Alguma vez vistes bem as tuas mãos ? perguntou-me ela. Quer dizer, vê-las como deve de ser.
Então eu olhei para as minhas mãos e fixei-as. Sem compreender bem o que ela queria dizer, respondi que não, nunca havia olhado bem para as minhas mãos.
A minha avó sorriu para mim e contou-me o seguinte: Pare e pense em como tuas mãos tem lhe servido desde o seu nascimento.
- As minhas mãos cheias de rugas, secas e fracas, foram as ferramentas que eu utilizei para abraçar a vida.
Elas permitiram agarrar-me a qualquer coisa para evitar de cair antes de aprender a andar. Elas levaram a comida à minha boca e vestiram-me.
Quando era criança a minha mãe mostrou-me como uní-las para rezar.
Elas ataram as minhas botas e sapatos.
Elas tocaram meu marido e enxugaram as minhas lágrimas quando ele foi para a guerra.
Elas já estiveram sujas, cortadas, enrrugadas e inchadas.
Elas não tiveram jeito nenhum quando tentei segurar o meu primeiro filho.
Decoradas com a aliança de casamento, elas mostraram ao mundo que eu amava alguém único e especial.
Elas escreveram cartas ao teu avô e tremeram quando ele foi enterrado.
Elas seguraram os meus filhos, depois os meus netos, consolaram os vizinhos e também tremeram de raiva quando havia alguma coisa que eu não compreendia.
Elas cobriram a minha cara, pentearam os meus cabelos e lavaram o meu corpo.
Elas já estiveram pegajosas, húmidas, secas e enrrugadas.
Hoje como nada funciona como antes para mim, elas continuam a amparar-me e eu ainda as uno para orar.
Estas mãos contêm a história da minha vida.
Mas o mais importante é que serão estas mesmas mãos que um dia Deus segurará para me levar com ele para o seu Paraíso.
Com elas, ele me colocará a seu lado.
E lá eu poderei utilizá-las para tocar na face de Cristo.
- Pensativo eu olhava para as nossas mãos.
Nunca mais as verei da mesma maneira.
Mais tarde Deus estendeu as suas mãos e levou a minha avó.
Quando eu me aleijo nas mãos, quando elas são sensíveis, quando acarinho os meus filhos ou a minha esposa, penso sempre na minha avó.
Apesar da sua idade avançada, ainda teve inteligência suficiente para me fazer compreender o valor das minhas mãos.

Um comentário:

Jorge disse...

Quanta importância, as nossas mãos e quão pouco valor as damos. Sábia era sua avó que soube compreender a importância delas. E viveu usando-a sempre de uma forma a se iluminar.
beleza!!!!

Beijo,
Jorge